Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Amargor

Ônibus.

Ajuricaba/Franceses.

Quase lotado.

Rapaz de cor parda.

Calça marrom.

Bolso à tira-colo.

Bolsa também.

No copo, refrigerante.

Na mão, o copo.

No rosto, o desejo incontido de sorver o líquido.

Passa pela borboleta.

Paga.

Esbarrão.

Copo no chão.

Calça salpicada.

Nos braços, nas mãos, por entre os dedos, escorre a Fanta.

Em pingos.

Um olhar.

Para os pingos.

Para o refrigerante no chão do ônibus.

Para quem esbarrou n’ele.

Salivação.

Sede.

Gosto.

No rosto.

Amargura.

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