Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 28 de agosto de 2010

Pavor

- Posso pegar uma manga?



- Sai pra lá, moleque, no meu quintal ninguém entra.


- Só uma manga.


- Se te pego aqui dentro dou-te um tiro.


***


Outro dia.


João volta.


Olha firme.


Manga madura.


Na boca,


Saliva.


No peito,


Medo do tiro prometido.


Pula a cerca.


Olha em volta.


Ninguém.


Aproxima-se da mangueira.


Sobe.


Manga na mão.


Lembra-se:


“Se te pego aqui dentro dou-te um tiro”.


Apavora-se. Desce rápido.


Desespera-se.


Grita:


- Nãããooo...


Enrosca-se no arame da cerca.


Fere o corpo.


Desvencilha-se.


Aterrorizado.


Corre sem olhar para trás.

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