- Posso pegar uma manga?
- Sai pra lá, moleque, no meu quintal ninguém entra.
- Só uma manga.
- Se te pego aqui dentro dou-te um tiro.
***
Outro dia.
João volta.
Olha firme.
Manga madura.
Na boca,
Saliva.
No peito,
Medo do tiro prometido.
Pula a cerca.
Olha em volta.
Ninguém.
Aproxima-se da mangueira.
Sobe.
Manga na mão.
Lembra-se:
“Se te pego aqui dentro dou-te um tiro”.
Apavora-se. Desce rápido.
Desespera-se.
Grita:
- Nãããooo...
Enrosca-se no arame da cerca.
Fere o corpo.
Desvencilha-se.
Aterrorizado.
Corre sem olhar para trás.
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Aqui, será meu espaço exclusivo das experiências em ARTE. "Em Toques" diários, ou quando der na telha, partilharei com cada um de vocês momentos que se eternizam em imagens criadas a partir das palavras que expressam sentidos de olhar, de cheirar, de degustar, de ouvir e de tocar cada minúsculo grão de areia que se torna tudo para o todo da praia, assim como uma gota de água é tudo para o todo do mar.
Tempestade de ideias
Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!
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