Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ciladas


A vida me fez entender
Algo bem específico
Nem sempre quem mais eu amo
Termina a vida comigo.
Por mim pulava na chuva
Gritava feito um menino
"Amo-te, mais que a mim
Senhora do meu destino".
Vem a razão, porém, e me enfrenta
Olha-me nos olhos, atenta
E sussurra em meus ouvidos:
Quieto, rapaz, tenha juízo!
Amar à distância dói demais
Corrói o peito sem sentido
Melhor que não vê-la nunca mais
É ser sempre teu amigo.
Protetor, irmão, um pai
Muito além de um marido
"Prova de amor maior não há"
Do que um amor ficar escondido!
Amores não concretizados
Com o tempo viram passado
Tornam-se lindas lembranças
De belos sonhos criados.
Pela doce teia da vida
Que teima em tecer ciladas
Depois fica de longe rindo
Quando nos vê amarradas.
Eu, você e a teia
Como se no interior das veias
Circulasse o sangue de um no outro
A nos tirar o chão do conforto.
Então viramos geógrafos
Ou meros medidores de áreas
A demarcar sentimentos
Como a um lote de terras.
De cima a vida nos goza
Te faz Julieta e a mim Romeu
E baixa um permanente decreto:
Não serei tua, nem você meu!

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