Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Temor


Temo não ser entendido
Por quem me ouve e não me dá ouvidos
Pior que ser ignorado
E sentir que as palavras
Entram pelo outro e saem pelo lado.
Ouvidos surdos parecem absurdo
Comuns, porém os são ao longo do dia
Como se nos cantos se escondessem sorrateiros
Significados, símbolos e guerreiros.
Esses últimos sem significado algum
A simbolizar o nada e o lugar nenhum
Palavras não se grudam ao significante
Perdem o valor: se é que tinham antes.
Sou um quase-nada e por assim o sê-lo
Selam em mim essa etiqueta
Da pequena Ética, do ignorado
Amorfo, sem nenhuma marca, quiçá do passado.

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