Pego-me sentado na ponta da cama
A encobrir as pernas com o edredom
O coração a pulsar que te ama
A mente a oscilar de tom em tom.
Como se fosse uma valsa vianense
A lembra tudo de ruim e bom
Que dos teus lábios em nonsense
Despedia-se com um good afeternoon.
Amo-te com todas as forças
Mas não esqueço teu ar impassível
Mão lavadas como se fossemos louças
A falar de algo impossível.
Ou que nunca tenha sido tratado
Em qualquer conversa anterior
É pecado inominado
Misturar trabalho e amor.
Ponho a cabeça no travesseiro
Sinto-me como se fosse um embusteiro
Um arrivista, uma saltimbanco
A arrumar-me, em sinecura, um canto.
O sol aparece, pássaros entoam
Cânticos que mostram o alvorecer
Noite se foi, que as dores doam
O amor é maior e nada vai doer.
Não preguei os olhos, a fronte lateja
A noite sem dormir, por pior que seja
Não dói, tão a fundo nem dilacera
Quanto o pesadelo de jamais tê-la!
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