Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

domingo, 13 de agosto de 2017

Obituário

Fico assim meio sem jeito
Já não te tenho em meu peito
Nem sei se tenho na vida
Como eras antes, querida.
Em meio à insegurança
Só sinto desesperança
Não acredito no futuro
Nem em Porto Seguro.
Porque inseguro estou
Ainda tenho o teu amor?
Não obtenho resposta
O que ainda te importa?
Em quase tudo sou nada
Não estou na tua estrada
Assim com fico, solitário
Só penso no obituário.
Se não o meu, do nosso amor
Cujo fogo, parece, se apagou
Se você não consegue alimentar
Nossa planta tende a murchar.


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