Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Doideira

O álcool entra no sangue
A saudade em mim expande
O desejo de estar ao teu lado
E retornar plenamente ao passado.
Mas, o passado não tem volta
Fico a olhar para outra porta
Vivo nesta louca doideira
Mas, só entra a arrumadeira.
Controlo as alucinações
Inclusive, as decepções
Ao abrir a porta chego a vê
Alguém que parece ser você.
Esfrego os olhos em ritual
Nada daquilo é real
Saio do quarto, vou para a rua
Para não te imaginar nua.
Ao retornar, tudo limpinho
Chego a sentir o teu cheirinho
Só me resta ligar o ar
E solitário me deitar.
Deixar que o sono incinere
O fogo que me persegue
Em absoluta solidão
Gerencio a minha ilusão.


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