Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Sôfregas

Já não sou mais o mesmo
Vivo a caminhar a esmo
Nem sei se devo parar
Ou continuo a caminhar.
Dúvidas dominam o peito
Verdades meio eternas
Alimentam minha entrega.
Parte de um todo indizível
Impensável por ser incrível
Ainda caminho meio trôpego
Em meio as lembranças sôfregas.
De um dia que parece sonho
Cantado em prosa e verso
Em tudo o que componho
Aparece você, por certo.
Ainda que por errado seja
Eis feito uma cerveja
Quanto mais bebo, mais quero
Por isso só a ti venero.


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