Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 31 de julho de 2018

Soluços


Você não me dá sinal
Deve ter os seus motivos
E eu fico aqui tão mal
Nem sei como estou vivo.
Vivo nesta vil solidão
Espero o julgamento final
Vítima da inocente ilusão
De que fui algo, afinal.
Para ti não fui NADA
Sonhei um dia ser TUDO
Hoje atravesso a madrugada
Em intensos soluços mudos.
Meu choro você não escuta
Qual crime a mim imputa?
O de ter sido inocente?
Ao não te tirar da mente?
Chorei, choro e chorarei
Vergonha disso não tenho
Se ainda puder, te amarei
Com todo o meu empenho.


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