Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Bem-me-quer


Um dia me beija com doçura
No outro: sou a razão das tuas loucuras
Ao acordar, sou teu bem-querer
Em pouco tempo: mal-me-quer-ver
Parece até que sou o culpado
De o quê vier a dar errado
Como se eu fosse o mal-me-quer
Que tira o juízo de uma mulher.
Se queres que eu não te queira
Abra as letras da melhor maneira
Só não me deixe viver na ilusão
De que terei uma chance à mão.
Peço, imploro, quase sem voz
Não destrua o teu eu no meu nós
Porque desfaço os sonhos meus
E passo a esperar o que vier de Deus.
Sou capaz de amar como fogo aceso,
Convivo também com o frio do gelo
Se sou o culpado das tuas loucuras
Deixo de ser com imensa ternura.
Basta que você me diga
Com serenidade, sem intriga
Quer que eu não seja o teu bem-querer?
Então, ligue-me agora para me dizer.


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