Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Inesquecível

Agradeço com orgulho e humildade
Aos membros da Banca de Avaliação
Que aceitaram participar da felicidade
Deste momento de emoção.

Chego ao topo da carreira
Saído de Sena Madureira
Tê-los nesta hora final
De defesa do Memorial.

É motivo de honradez
Faz-me corar a tez
Agradeço aos presentes:
Que partilhemos contentes.

Deste instante de muita honra
Da certeza do dever cumprido
Para quem está no vídeo comprimido
Espero que meu verso corresponda.

E que te faça relembrar
Deste momento que é ímpar
Mesmo por videoconferência
Agradeço a vossa presença.

Pois foi para ti que pensei
Em fazer algo inesquecível
No máximo, nem sei se cheguei
Ao melhor que seria possível.

Desde as barrancas do rio Yaco
Até hoje me faço e me refaço
Rodei neste mundo sem eira
Nascido em Sena Madureira.

Exatamente aos 45 minutos
De um dia 16 de novembro
Menino pobre e matuto
Hoje, da fome, nem me lembro.

Primeiro dos quatro filhos
De Clotilde Alves Vieira
Que por uma obra do destino
Ganhou Monteiro na beira.

Na época, nascer mulher
Nem no nome se mandava
Faça até o que não quer:
Encha de filhos a casa.

Não sei se assim o foi
Com a minha mãe-querida
Estar longe de ti me dói
Uma dor mal resolvida.

Dificilmente para ti volto
Ao longo desta jornada
Quem sabe durmo em teu colo
Em outro plano, oh mãe-amada.

Aos meus irmãos e meus sobrinhos
Deixo todo o meu afeto
Muitos beijos e carinhos
Que ainda darei aos meus netos.

Gilmar, Giseuda e Gilberto
Nesta ordem de grandeza
Amor do modo mais correto
Às vezes, sem muita singeleza.

No meio desta quase-andança
Não deixo nem Vô João, nem Vó Ana
Nem os exemplos de mulher
Que foram Tia Francisca, Tia Graça e Tia Cloé.

Das minhas histórias da infância
Tio Toinho era o mais presente
Vieirinha o mais recente
Zé Vieira político, mais à distância.

Os cabelos brancos do Vô Alfredo
Deitado em um travesseiro
Com um sopro leve e passageiro
Morreu em meus braços, sem medo.

Vó Petu ficou mais tempo
Mostrou o quanto nos amava
Sorria a todo momento
Quando com a perna nos derrubava.

Walfredo Guedes, irmão do meu pai
Tia Waldelina de mim não sai
Dos primos, só falarei
De quem não posso esquecer, é de lei.

Alfredo Bulbol mais parecia
Ser um dos filhos do meu pai
De Sena Madureira não saía
Em Deus, que descanse em paz.

Sem Alfredo Bulbol
Eu não teria lugar ao sol
Foi um ser especial
É parte deste Memorial.

Em um dia de Janeiro
Do ano de 1979
Levado pelo primo Alfredo
Fui para a capital do Norte.

Belém com Manaus disputava
A primazia de ser metrópole
Lá fiz o que mais amava:
Poemas, música e fui repórter.

Nos festivais universitários
Posei até de cantor
Embora desde o primário
Dissessem que seria doutor.

Os primeiros passos dei
Quando em Manaus cheguei
Colégio Brasileiro, na 10 de julho
Gente famosa e do luxo.

O sonho da medicina
Mal dobrou a primeira esquina
O galho de uma ingazeira quebrou
E o braço direito se espatifou.

Fiz vestibular para a Ufam sem saber
Que poderia ser ajudado
Vi o sonho dos outros morrer:
Um péssimo médico foi sepultado.

Depois, a família Bulbol
No Ceará foi tomar sol
O menino aqui não desiste
E vai morar com a Dona Alice.

Por uns tempos fui agregado
Não nego, muito bem-tratado
Até que o espelho quebrou
E a relação se desgastou.

Morei de favor em um banho
Próximo do balneário da AABB
De novo, senti aquele estranho
Gosto de mal ter o que comer.

Pelo primo Zé Bulbol fui levado
Para dividirmos o espaço
Em muitos lugares moramos
Em Manaus, por aí zanzando.

Um endereço aqui
Outro endereço acolá
Nunca mais a mão abri
Até um apartamento comprar.

Da amiga Ana Vilela
No Ouro Verde comprei
Foi quase uma novela
O AP financiado pelo BEA.

Era um contrato de gaveta
Minha primeira moradia
Naquela pochete preta
Guardei todas as economias.

Durante os tempos de Ufam
Fiz Jornalismo, depois Letras
Uns me achavam tam-tam
Outros, no máximo um esteta.

Talvez, pelas músicas que fazia
Desde que por lá entrei
Cantar era a minha alegria
Desde sempre provoquei.

Quem era aquela pessoa
Que ousou letra e música fazer
E no meio de tanta gente boa
Fez “Anjo de amor” aparecer.

Por três anos seguidos
Daquele estudante meio estranho
Músicas chegavam aos ouvidos
Sem nunca um festival ter ganho.

Antes mesmo de formado
Por Sebastião Reis foi levado
No Esporte de A Crítica
Na vida profissional milita.

Antes havia passado
Pela Rádio Rio-Mar
Erasmo Linhares o levou
E até o abençoou.

Aos quatro cantos disse
Que seria o seu sucessor
Mas, em A Crítica insiste
Foi até do “Sim e Não”, redator.

Conquistou uma coluna semanal
Das mais respeitadas do Jornal
Por muitos anos de Umberto Calderaro
Angariou um respeito raro.

Depois de passar pelo Em Tempo
E não ficar por muito tempo
Para o Jornal A Crítica voltou
Até quando para a UFAM passou.

O menino de Sena Madureira
Foi ser professor de carreira
Depois virou mestre e doutor
E quase chegou a reitor.

Antes, ainda estudante
Viveu uma paixão estonteante
Que se transformou em amor:
Com uma colega de turma casou.

Num ritmo quase alucinado
Nem chegou a ser namorado
Um dia, estava com a aliança no dedo
No outro casava em segredo.

Muitos diziam que não daria certo
Deu certo enquanto durou
Dois filhos lindos tivemos
Até que o amor desmoronou.


“Por minha culpa, minha máxima culpa”
Destruí tudo o que tinha construído
Ou, talvez, tenha buscado uma desculpa
Para o que hoje confesso, arrependido.

De tudo o que me trazem essas marcas
Resta um homem muito mais maduro
Pois de todas aquelas atitudes fracas
Surge um homem melhor e seguro.

Seguro dos erros cometidos
Graças ao perdão recebido
Por isso (Claudia) a respeito tanto
E ainda causamos espanto.

Todo o carinho e respeito
Que mantemos e resiste
Tem razão em dois lindos feitos:
A Carolina e o Felipe.

Ele nasceu do Mestrado
Ela veio no Doutorado
São “minha razão de viver”
De chegar aqui e vencer.

Sofri, não nego e assumo
Errei em muitos momentos
Mas, neste poema, resumo
Parte dos meus sofrimentos.

O maior deles talvez tenha sido
Quando na Ufam fui agredido
A Instituição fez silêncio de morte
Fui largado à própria sorte.

Se é que pode se chamar de sorte
Ter o tímpano furado
E moralmente quase chegar à morte
Publicamente escorraçado.

Mataram, também, por opção
Um programa de pós-graduação
Os ecossistemas comunicacionais
Foram enterrados com as pás.

Da falta de compreensão
Sobre a área de concentração
Nem sobre as Mídias Digitais
Alguns querem falar mais.

Os últimos estudantes se formam
O PPGCCOM está na UTI
Há estudantes que não se conformam
Eu só posso olhar daqui.

Impossível tirar da memória
O começo de toda a história
A luta para o criar
E depois o sustentar.

Por duros dez anos conseguimos
Como o primeiro do Norte
Depois que da coordenação saímos
Aos poucos, veio a anunciada morte.

Quando estive na Pró-reitoria
Já vi o programa em agonia
Ainda assim tentei ajudar
As pessoas a publicar.

Novo regimento aprovado
E a reforma administrativa
Como logomarca ao lado
De cada oficial missiva.

Mas, só cheguei a Pró-reitor
Pela coragem e o valor
De publicamente defender
Quem era atacada sem pudor.

- Quem ajudou a vencer
Não pode nos abandonar
Deixe o Pós-doutorado para ser
Pró-reitor e venha governar.

Era algo que eu não queria
Nem na campanha entrar
Em pouco tempo, não sabia
Que a iria coordenar.

Foi preciso vencer a mágoa
E a dor da agressão sofrida
De um mundo que quase desaba
E destrói a minha vida.



Trocamos um abraço fraterno
De antigos adversários
Naquele dia larguei o inferno
E retomei meu trabalho.

Depois de passar pela consulta
Rasguei o aceite de Portugal
Para poder entrar na luta
Larguei o estágio pós-doutoral.

Em quatro anos de Pró-reitoria
Agradeço a galhardia
De todos que foram da equipe
Do mais simples ao pelotão de elite.

Política de quotas implementada
E o Programa “Vamos Publicar”
Com os “Jovens Doutores” se incentivava
As pessoas a pesquisar.

O PAC-PG foi incorporado
À rotina administrativa
O indígena respeitado
Defende tese na própria língua.

Enfrentei TUDO com altivez
Conheci Gonzaga Blantez
Ainda na Pró-Reitoria
Lancei o CD “Por toda a vida”.

Primeiro na Casa do Parente
No Forprop, no Novotel
Músicas para se ouvir contente
Com os olhos virados para o céu.

Depois de tanta cantoria
Deixei a Pró-reitoria
Da Ufam saí com emoção
Segui a minha intuição.

Saí de cabeça erguida
Da mesma forma que entrei
Com a UFSB na vida
Para a Bahia me mudei.

Foram momentos difíceis
Com aquela redistribuição
Depois que aceitei o convite
Naomar desistiu da eleição.

Sem saber o que fazer
Para o Amazonas não voltaria
Agora tinha de escolher
Onde morar na Bahia.

De Itabuna não gostei
Em Porto Seguro não fiquei
Por uma carona de Daniel Puig
Parei onde nunca estive.

Na chegada, ele foi um irmão
Que me tratou da decepção
De na Bahia chegar
E não saber aonde parar.

Das três opções de escolha
Para muitos, uma bolha
Ninguém, nem eu entendia
Porque ficar em Teixeira, queria.

Antes de prosseguir
Devo um registro fazer
Não posso dizer um “i”
Da Claudia do DGP.

O que dizer, também
Da Ita e da Gilmara
Que me receberam tão bem
E me fizeram se sentir em casa.

Deixei-me levar pela vida
Fabrício e Rodrigo no CPF
Foram importantes na acolhida
Coisa que não se esquece.

Depois conheci Marina Miranda
Fiz APCN com a Rosângela
Não conseguimos no braço
Abrir um curso de Mestrado.

Dirceu Benincá e Frederico
Passaram a ser amigos
E juntamente com Marina
Chegamos a idas e vindas.

Ao lado dela e de André
Estivemos em uma disputa
Nem tudo é como a gente quer
Fomos derrotados na luta.

Com a Caputo e Guineverré
Tentamos reabrir o Interfaces
A coisa não deu muito pé
E ficamos em um impasse.

Até que um belo dia
Três convites mudaram tudo
Lilian e as duas Robertas
Transformaram-se em meu escudo.

Com os estudantes, Gonçalves era a Roberta
Que a muitos liderou e desperta
Para do Ecoem participar
E na pesquisa se embrenhar.

Entre os professores, a Scaramussa
Trouxe Gaffo, também veio Dirceu
Juntos crescemos e fomos à luta
Depois vieram o Thayro e o Eliseu.

Nem sei se fui preciso no que digo
Ou se em versos contei minha história
Posso garantir, porém que sigo
TUDO o que me registrou a memória.

Peço, portanto, aos colegas
Desta Banca de Avaliação
Que me deem um pouco de trégua
Quanto ao item da precisão.

Pois este poema-roteiro
Talvez traga boas trilhas
De o que me escapou por inteiro
Ou fugiu da minha alça-de-mira.

Quero registrar meu contentamento
De estar vivendo este momento
Nem que seja de forma virtual
Com quem na vida foi e é “sem-igual”.

Posso ter deixado de fora nominalmente
Pessoas e fatos que fugiram da mente
Só não posso é deixar de dizer que doravante
Não existo sem o estudante.

Tudo dessa minha construção
De dores e de pura emoção
Tem todos os amores e amigos
Que na vida, seguem comigo.

Para encerrar, agradeço
E vos peço atenção redobrada
Para quem, nem sei se mereço
Esteve ou está comigo na estrada.

Foram homens que marcaram época
Que ao longo de mais de cinco décadas
Deram-me um pouco de o quê sou
Seja na esperança ou na dor.

Assim como épocas marcaram ou marcam
Todas as mulheres aqui nominadas
Que aos poucos o machismo, matam
Desta mente de macho arraigada.

Não mais em forma de verso
Nem na intenção de fazer poema
Ouça com atenção, é o que peço:
As minhas lembranças de Sena (cenas).

PESSOAS NUNCA PASSAM PELA VIDA DA GENTE, PESSOAS MARCAM A VIDA DA GENTE!

Homens que marcaram época e marcam na minha vida

Alfredo Guedes (Avô paterno)

João Joaquim (Avô materno)

Pedro Paulo Guedes Monteiro (Pai)

Alfredo Guedes Mansour Bulbol (Primo que me levou para Manaus)

Felipe Guerra Monteiro (Filho)

Walmir de Albuquerque Barbosa (Graduação)

Geraldo Luciano Toledo (Mestrado)

Sebastião Carlos de Morais Squirra (Doutorado)

Marcius Freire (Coordenador de Área da Capes na época de criação do Mestrado em Comunicação)

Naomar Monteiro de Almeida Filho (Criador da UFSB)

Jorginho Bulbol (Primo segundo...)

Mulheres que marcaram época e marcam na minha vida

Vó Petu

Vó Ana

Clotilde Alves Vieira Monteiro

Alice Seffair Ramos

Claudia Guerra Monteiro

Carolina Guerra Monteiro

Maria Luiza Cardinale Baptista

Sandra de Deus

Márcia Perales Mendes Silva

Roberta Gonçalves de Oliveira Matos

Ellen Lindoso...

Pessoas sei que esqueci
Nesta singela linha do tempo
Não é porque nada senti
Sim, a emoção do momento.
Até o ser mais invisível
Deste Planeta Terra
Pode parecer insensível
Mas, provocar uma guerra.
Se você de fora ficou
Destes flashes de memória
Se por minha vida passou
Marcou a minha história.
Com o Paulo José e a Ana Laura
Lembro todos os sobrinhos amados
Finalizo com um beijo na aura
De todas (e todos) os que não foram citados.

Para muitos, estar neste lugar
É chegar ao fim ao fim da carreira
Para mim, ainda tenho muito a dar
Em dias tão sombrios, RECOMEÇO a lutar
PELA UNIVERSIDADE PÚBLICA E GRATUÍTA BRASILEIRA.

UM BEIJO NO CORAÇÃO
EIS AQUI O MEU

MUITO OBRIGADO!

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