Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 27 de novembro de 2010

Duas Margaretes

(Para Roraima)

Aos dois anos e meio
Margarete veio
Me apontou os seios
Quanta ousadia!

Explorou meu corpo
Na ponta dos dedos
Cada toque dela
Guarda meus segredos.

Prima, bela, dona
Eu ainda bebê
Era apenas seu brinquedo
Chorando de anseio e medo.

Medo e prazer
Se misturavam
Quando ela a mão descia
Hoje sei o que fazias
Afogado em desejos
Inocência perdida.

Rio Branco, Lua cheia
Lembranças as águas margeiam
Tu da tua Marguarete
Eu também já tive a minha.

Virgem ainda estou dela
Nem um beijo, nem carícias
Duas Margaretes se encontram
Mortas na mente
Vivas na vida.

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