Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 26 de novembro de 2016

Fenecer

Olhos fixos na tela
Espero tua ligação
O amor que era eterno
Não passou de ilusão.
Lá se foi embora o mês
Você mantém a rigidez
Um simples telefonema
Reacenderia a chama.
Às vezes me desespero
Digo que não mais quero
Quando o que eu mais queria
Era de volta a minha alegria.
Você parece que não entende
Ou finge que não compreende
Mata nosso amor dia-a-dia
Quando, assim, silencia.
Vejo a fugir pelas mãos
Como águas fluem nos rios
Impossível tanta solidão
Resistir ao imposto estio.
Você decidiu unilateralmente
Sair por completo de mim
E me deixar frágil, doente
Na vala de um botequim.
Tento ficar animado
Ouço o toque tão sonhado
É tudo alucinação
Morro com o fone à mão.


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