Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Irresponsável

Amei como um demente
Feito um adolescente
Um amor, assim, memorável
Mas, fui um irresponsável.
Acreditei neste amor cegamente
Como a única possibilidade da vida
Se agora estou aqui só e doente
Criei condições para não ter saída.
Jamais soube me preservar
Só pensei em me entregar
Em ser teu por inteiro
No chão, na sala, no chuveiro.
Só quis viver o momento
Não te tirei do pensamento
Você se fez o meu tudo
E hoje me vejo aqui mudo.
Você sumiu e me isolou
Faz de conta que não existo
Fui irresponsável no amor
Pago caro demais por isto.
Não me arrependo, amei você
E te entreguei todo o meu corpo
Se hoje choro e vivo a sofrer
É porque te amei feito um louco.


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