Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Meu lugar

Foi preciso você demonstrar
Com palavras e atitudes
Qual é o meu verdadeiro lugar.
Tenho de me contentar
Em viver pelas sombras
Nenhum sentimento demonstrar.
Sou nada, zero no teu mundo
O que tenho de mais profundo
É, no máximo, esperar.
O celular deve estar quebrado
Sou mantido inteiramente isolado
Como se a mim não pudesse ligar.
Não ligas porque não quer
Jamais foste minha mulher
Teimei em nisto acreditar.
Sou um bibelô, um objeto
Que talvez enfeite o teto
Usado para decorar.
Parte das tuas lembranças
Sem perder as esperanças
De que um dia irás voltar.
Enquanto isso, eu que espere
Dia a dia me desespere
Sem nunca o telefone tocar.
Mal sabes que estás destruindo
Tudo o que houve de mais lindo
Só, não aguento esperar.
Então, se não mais me ligas
Que a tua vida prossigas
Hoje sei qual é o meu lugar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário