Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Entrega


De longe, quando te vejo
Ainda desperta um desejo
Você, um tanto assustada
Temia até ser tocada.
Ávida, deu-me um beijo
Depois, o corpo relaxou
Enquanto eu te tocava
Você, também, me tocou.
Aquela loucura nos movia
Nem tínhamos a dimensão
Da nossa futura alegria
Da loucura e do tesão.
Só queríamos nos entregar
Ao prazer de nos tocar
O corpo não se controlava
Enquanto a gente se amava.
Perdemos a compostura
O se entregar àquela loucura
Resta, hoje, a lembrança
E algum fio de esperança.
De, um dia, tê-la de novo
Para sentirmos o gozo
Que jamais se repetiu
Desde que você partiu.


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