Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Desespero

Ao entrar no banheiro
Aumenta o meu desespero
Nem nas gotas do chuveiro
Encontro quem mais quero.
Saltam das paredes brancas
Os contornos das tuas ancas
Meus olhos arregalados
Não veem você ao lado.
Deslizo o vidro fumê
Mas não encontro você
Nem mesmo atrás da porta
O que mais me importa?
A espuma desce pelo corpo
O piso fica escorregadio
Ali é minha jaula de louco
Animal preso e no cio.
Começo a me tocar
Como se as mãos fossem tuas
Mas como posso roçar
Minha pele nas tuas curvas?
Aos gritos, em desespero
Corro para fora do banheiro
Resisto a te encontrar em mim
Não quero viver sempre assim.


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