Eu achava muito bonito aqueles homens, de paletó e gravata, o suor pingando do rosto. A multidão ia ao delírio quando surgiu uma promessa que, nós meninos, dada nossa experiência em outros comícios, sabíamos mais do que ninguém que era falsa. Sempre fui apaixonado por política. O calor dos discursos me fez sonhar ser, um dia, um homem capaz de seduzir as pessoas com o poder da oratória.
Quando abri os olhos e parei de sonhar, todos já haviam discursado. Chegara a vez do nosso prefeito. Muito irreverente, gestos mansos e delicados, fizeram o povo espalhar boatos maldosos a respeito da masculinidade do prefeito. Nunca liguei para aquelas conversas, sempre fui amigo dele e ele sempre me respeitara. Eu só o tratava por “Excelência”, talvez até com uma ponta de sacarsmo.
Aquele era um dos maiores comícios da Arena, como em outras épocas: os comícios da Arena lotadíssimos, mas a vitória, em Sena Madureira, era do MDB. A presença do público deve ter deixado o prefeito empolgado:
- Meu povo.... Estou aqui para dizer....
Um gaiato emenda, lá do meio da platéia:
- Que sou um tremendo boiola.
O pau cantou feio. Os “colegas” do prefeito começaram a gritar que aquilo era uma falta de respeito. Que iriam denunciar o preconceito às autoridades, que, àquela altura já desciam do palanque, tentando se proteger, enquanto a confusão aumentava. O pau comeu e era gente correndo para todos os lados.
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