Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 23 de outubro de 2010

Vô voador (Terceira parte)

- Um dia desses, quando nós morava ainda em Santa Rosa, o pai e o vô vieram pra Sena fazer compras. Quando entraram na canoa, no porto da tia Cloé, o pai lembrou que tinha esquecido o sal. Nessas alturas, a canoa já estava deslizando rio acima. O pai tentou chamar a atenção do vô e disse:
- Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Nessas alturas, a canoa já estava pra lá da balsa.
- Uquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
foooooooooooooooooooooooooooooiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Vieiriiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnha?
- Isquiiiiiiiiiiiciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii u saaaaaaaaaaaaaaaal.
Tinham acabado de encostar a canoa em Santa Rosa.
Cácácácácácácá. Ah, ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah,ah.........
Todo mundo dobrava o bucho de rir. A história do Fidelis me fez lembrar de um tempo que o vô João, acometido de uma doença rara, que nenhum médico conseguia diagnosticar, resolveu pilotar uma lambreta velha, que ficava na varanda da casa da tio Clóe, bem de frente para o rio.
Naquela época, o juízo do vô não tava batendo bem. Ele nunca podia ficar sem ninguém por perto pois se danava a falar e a fazer besteira. Subia na lambreta e:
- Vruummm, vrummm, vrummm - fazia um barulho com a boca como se tivesse botando a bicha pra funcionar.
- Vrummmmmmmmmmmmmmmmmmm..... vrummmmmmmmmmm

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