Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sábado, 2 de outubro de 2010

O segredo (Primeira parte)

Pouco tempo após ser elevada à categoria de cidade, Sena Madureira começou a receber uma leva de libaneses, idos de Manaus, vender mercadorias pelas cercanias dos rios Purus e Yaco. Chegaram a transformar a vila num verdadeiro lugarejo, pronto para ser uma cidade. Tanto que, para alguns, a capital do Acre deveria ser Sena Madureira e não Rio Branco. Em pouco tempo, os libaneses eram praticamente donos da cidade.
Jornalista de A Gazeta do Purus, jornal que fez muito sucesso em Sena Madureira, fui designado para fazer uma reportagem sobre a prosperidade dos libaneses. A pauta tinha o sugestivo nome “O segredo do sucesso”.
Donos de uma das maiores lojas de quinquilharias do lugar, Abdul Rassham não era afeito às entrevistas. Tive que procurá-lo umas três vezes até que ele resolvera falar. A rua principal da cidade, hoje conhecida como Avelino Chaves, era chamada “rua dos forasteiros”. Para os moradores do lugar, no entanto, era a “rua dos mão-de-vaca”, “rua dos miseráveis”, e outras denominações nada agradáveis.

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