Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Banzeiro


Canoas, botes e voadeiras
Desviam das árvores que em teu leito descem
Remos nas mãos ou um motor de popa
Capas de chuva pra não molhar a roupa.
O rio desce, o motor sobe
A correnteza arrasta barrancos
As águas se enturvam em redemoinhos
Como em balé rodam barcos e troncos.
Festa em barranco, chamam de piseiro
Em ritmo lento, nas águas, é banzeiro
Todo o cuidado do mundo ainda é pouco
Se você vai atravessar um rebojo.
Na dança das águas há cobras que enganam
Fingem, das árvores, ser galho seguro
O encantado náufrago agarra-se nela
Vira presa fácil da enorme fera.
Na beira dos rios há sempre um salão
De barranco alto, nem dá pra escalar
Cuidado, seu moço, com essa mansidão
É a cobra grande que quer te encantar.

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