Tempestade de ideias

Lia Ernst Hans Gombrich. Encantado com Leonardo da Vinci, ao anoitecer de uma tarde amazônica. Absorto. Os olhos em “Estudos anatômicos”, laringe e perna, de 1510. Quanta perfeição! Pura arte e anatomia nunca vistas. A última ceia. Mona Lisa. Os olhos deslizam das páginas. À esquerda. Clarões, nuvens, luzes. Sinalizadores do pássaro de aço que da Vinci idealizara. Os olhos voltam-se para as páginas. Mona Lisa. Uma força me impele a erguer os olhos. Duas mãos estendidas por sobre a poltrona 10A chegam a me assustar. O sinal da presença humana tirou-me dos momentos de transe total nos quais vivia cada detalhe de Gombrich sobre da Vinci. A respiração oscilou o ritmo. Um rosto de menina surge entre aquelas mãos, na altura dos cotovelos, lança-me um sorriso terno, infantil e diz; “Tio, porque o senhor deixa aquilo aberto?” e dirige o braço direito para a janela da poltrona 11A na qual eu estava sentado. “É para olhar a nuvens e curtir essa sensação de liberdade”. Sorri. Ela sorriu. “Tomei um susto com as suas mãos”. Ela abriu ainda mais o sorriso. CONTINUA!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dejetos


Dias e dias não sei dormir
O que faço para acordar?
Se nesse sonho profundo em vida
Nem leve sono consigo tirar!
Passos na calçada, miados, latidos
Felinos desfilam por sobre telhados
Cães na esquina teimam em ladrar
Enquanto vigias silvam seus apitos
Como se o último trem estivesse a passar.
De meia-noite às duas da madrugada
Feito um zumbi desço para a calçada
Bêbados, mendigos, filhos-de-papai
Perderam da vida o brilho no olhar
Como robôs cheiram cola ou cocaína
Para chamar a atenção de uma mina
Mas se afundam no crack sem bola jogar.
Não recebem bola, mas fazem jogadas
Seduzem menores, exploram o sexo
Querem por minutos a ilusão de ser donos
Nem que para isso precisem comprar.
Levam o corpo, não conseguem a mente
Retiram o brilho de cada olhar
Dejetos humanos, leva de doentes
Nem toda infância vocês vão roubar.

Um comentário:

  1. Primoroso.Ressalve-se a estrofe "nem levo sono consigo tirar( leia-se) leve sono, ou não? Na minha ótica obtusa,talvez tenha eu errado.Tenho certeza absoluta que foi lapso de digitação, também entendo que é difícil a autocorreção, pois não fácil tecer um poema excelente desse. Não sou purista da Lingua Portuguesa,mas, hás de convir que num texto o menor deslize, acaba mudando tudo.A sorte é quem te ler não são os apedeutas ignaros, talvez me inclua dentre esses. Teço este comentário, no entanto,apenas para preservar a tua imagem de douto da lingua...

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